terça-feira, 10 de junho de 2008

in "OS LAÇOS QUE NOS UNEM" - 6º Capítulo

..."O avô Santos sentiu que tinha sido suficientemente esclarecedor e que o neto, mais tarde ou mais cedo, acabaria por entender a mensagem e colaborar com ele. Por seu lado, o Diogo não precisou de mais que duas passagens do pente pelo cabelo fino do avô para declarar a sua sentença: - Conseguiste convencer-me. Tenho muita sorte em ter-te ao meu lado. - Disse-lhe, sem falsa imodéstia. -- Eu também te devo muito, campeão. Não te lembras, mas quando ficámos só os dois, na companhia do Meia-leca, ensinaste-me com a tua naturalidade a apreciar a vida pelo simples facto de estar vivo. E esse momento em que aprendi a reconhecer o privilégio de conseguir respirar, fez-me perceber, na altura, que na verdade era muito mais pequenino que tu. Quero que saibas que, apesar de falar muito ,tenho crescido imenso ao teu lado. - Bom, já que estamos num momento de abrir os corações, também quero que fiques a saber que a educação que me tens dado faz-me esquecer, por fases muito longas de tempo, da inexistência dos meus pais e que isso representa para mim um enorme alivio. Tens sido insuperável e um verdadeiro mestre para mim. És muito mais que um avô. O Diogo acabara de fazer o maior reconhecimento que o avô Santos alguma vez desejara que saísse da sua boca e, inconscientemente, acabou por tornar aquele momento num dos mais emotivos da já longa vida do seu avô. As lágrimas sexagenárias que lhe escorreram da cara no instante seguinte foram tão doces, que ao mesmo tempo que deixavam os ombros do neto, finalmente levantado da retrete, em estado glaccé por causa do abraço, também adocicavam a manhã, certamente menos brilhante se nascesse numa outra casa que estivesse sob o mesmo contexto. O reconhecimento da sua utilidade nas palavras do neto era não só merecido, como também suficientemente entusiasmante para voltar a ter vontade dos domingos de “Celebração”. - Hoje à noite acendemos a lareira e conto-te mais uma história. - Disse-lhe, efusivamente, enquanto enxugava a ultima lágrima. - Vou dizer-te uma coisa que nunca te disse, Amo-te. - Confessou-lhe, num profundo tom reverencial. - Eu também te amo, campeão."...

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