terça-feira, 10 de junho de 2008

in "OS LAÇOS QUE NOS UNEM" - 4º Capítulo

..."- O que se passa nos dias de hoje é uma hipocrisia desmedida, onde já nem a religião, nem o nascimento de Jesus Cristo é levado em linha de conta. Os centros comerciais enchem, as lojas alongam-se por filas intermináveis, os produtos esgotam-se e entristecem as pessoas que ainda se culpam por terem chegado tarde. O Natal está amaldiçoado. É suposto ser uma época de Amor, paz, fraternidade e solidariedade entre os homens onde se promove a reunião da família e não uma correria ansiosa contra o tempo e contra o ordenado. Existem valores acima das prendas e esses, parece-me a mim, foram esquecidos. O Diogo nunca tinha pensado daquela maneira, pois os únicos valores a que dava importância no Natal eram o das prendas, mas rapidamente se entrosou na linha de pensamento do avô e cheio vontade de, também ele, contribuir para a conversa perguntou-lhe:
- Então o que é que se pode fazer avô? - Na minha opinião, deve fazer-se o que estamos aqui a fazer hoje. Sem expectativas nem falsas formas de agradar. E era bom se começássemos a explicar às crianças, que o Pai Natal é todo aquele que ajuda e proporciona bem estar ao ser humano e que as prendas, que devem existir apenas na forma sincera de dar sem esperar receber, são meros bafos de Amor de quem as oferece. Poupariamos-lhes a decepção de terem de desmontar uma personagem que foi construída para lhes fantasiar a cabeça, mas que com o passar dos anos auto destrói-se e adoece-lhes a cabeça quando crescidos.
- Natal é todos os dias. - Disse a Dona Maria Antónia, referindo-se a um cliché que já existia desde o seu tempo.
- Tem toda a razão. E se pensássemos todos assim não cairíamos nesta farsa materialista a que todos chegámos. Esta noite é uma tentativa de sermos diferentes e o meu maior desejo é que o consigamos e sintamos orgulho em assumi-lo perante todos aqueles que nos perguntarem como correu a noite. O Natal, como já disse, é Amor, paz, fraternidade e solidariedade mas será que só devemos amar, buscar a paz, ser fraternos e solidários nesta noite? E o dia 24 de Fevereiro, 15 de Março,12 de Setembro, 2 de Outubro? O que é que devemos fazer neste dias? Ser rancorosos, desequilibrados, egoístas e invejosos? As perguntas ficaram no ar apesar de cada um se aprontar a responder para si próprio. Estavam todos deliciados com a força daquela mensagem e tudo o que fizeram foi cerrar os dentes e assentir com a cabeça como se lhes tivesse sido confidenciada a maior verdade da vida. Porém, o avô Santos ainda não tinha acabado:
- Está na altura de abrirmos os olhos, mas principalmente o coração. Diariamente devemos ser o Pai Natal que sorri para o triste, que abraça o perdido, que aquece o despido, que serena o desesperado e que alimenta o esfomeado. Todos os dias devemos distribuir prendas do nosso coração porque ninguém chega até nós por acaso. Tudo tem um propósito. Este é o Pai Natal que, realmente, deve existir, mas ou está escondido dentro de nós com vergonha das nossas atitudes ou então, foi raptado e está encalhado numa qualquer chaminé entupida da nossa mente. Depois de partilhar um silêncio necessário, que já nem a chuva miudinha importunava, com o neto, o melhor amigo e a sua mãe, o avô santos olhou para o relógio e viu que faltavam menos de quinze minutos para a meia-noite e por isso apressou-se a convocá-los para um desafio com validade de um ano e que terminaria no Natal seguinte:
- E se tirássemos o disfarce que ostentamos o ano inteiro e voltássemos a acreditar em nós, como pessoas capazes de distribuir Amor e sorrisos por todos, sem diferenciar ninguém? E se prolongássemos a estadia do Pai Natal que existe em nós e aprendêssemos com ele a arte de proporcionar felicidade e magia? E se fossemos altruístas e humildes como ele e nos deixássemos afogar na sua fraternidade e solidariedade? E se lutássemos com ele e não contra ele por um Mundo melhor? O Mundo só acaba quando a ultima réstia de Amor for derrotada, por isso, proponho-vos que durante um ano caminhemos com esse senhor gordo e bonacheirão, de barba branca e roupa vermelha e de saco ás costas possamos distribuir presentes tão valiosos como sorrisos e abraços, cobertores e comida. Não se esqueçam que diariamente alguém precisa de nós e um obrigado silencioso é muito mais intenso porque, simplesmente, não existem palavras para agradecer o nosso gesto. Já existem, concerteza, milhares destes Pais Natal e não interessa as suas origens, formas e feitios porque uns vêm certamente do frio mas outros vêm do calor, uns são magros e outros são gordos, uns vêm de longe e outros estão mesmo ao nosso lado. O Mundo inteiro precisa que libertemos o nosso Pai Natal, porque o Mundo inteiro precisa do nosso Amor."...

1 comentário:

Pequenas histórias de gente grande! disse...

O MUNDO INTEIRO DE FACTO NECESSITA DE DESPERTAR PARA O AMOR.
DE ACORDAR E NAO TER MEDO DE AMAR. DE DAR AS MAOS.
DE OLHAR O OUTRO COMO SENDO UM SER UNICO ESPECIAL.
O MUNDO PRECISA QUE A CORRENTE SEJA RESTAURADA E QUE DE MAOS DADAS CONSIGAMOS UNIR OS NOSSOS CORAÇOES NUM SO LAÇO: O DO AMOR.